quarta-feira, 29 de abril de 2015

Existe sólido, gasoso e líquido, qual o estado físico do fogo?   ─ perguntei.
O Fabrício fez cara de cu e disse: Vá se foder.
Estávamos falando antes sobre como as coisas mais simples, os atos mais insignificantes de uma pessoa insignificante podem se tornar numa bola de neve enorme e atingir muitas e muitas pessoas. "TRETAS" eu concluí, e o Fabrício riu disso.
 ─ Mas véi, qual a sua preocupação quanto a isso? Diga aí. ─ Disse o Fabrício
─ Eu não tenho preocupação nenhuma quanto a isso, não. Não faço parte desse grupo.
Ele me olhou com uma cara de desapontado porque sabia que eu tinha uma opinião muito mais significativa do quê o eu tinha acabado de falar, mas assentiu com a cabeça e tragamos nossos cigarros ao mesmo tempo.
─ Mataram um cara aí embaixo hoje cedo. ─ Disse Fabrício mudando o assunto.
─ Não mataram não, ele tomou um tiro no joelho e um na boca, mas ficou vivo. ─ Falei olhando pra rua de baixo, onde o suposto criminoso teria tomado os tiros.
─ Vish véi, e foi por quê, cê sabe?
─ Disputa de território, eu acho.
Traguei o cigarro e logo me veio a mente tudo o que aconteceu comigo nos últimos dois anos, parece bem vago escrever algo do tipo "tudo que aconteceu comigo nos últimos dois anos" e até mesmo clichê, mas essas lembranças do passado me ocorrem com bastante frequência, mesmo quando aparentemente não tenha nada relacionando um assunto ao outro. Todos os acontecimentos simples, atitudes que eu pensei que não mudariam nada na minha vida, mudaram tudo, completamente. As vezes você só precisa dizer uma frase pra deixar uma pessoa infeliz por meses ou até mesmo fazer com que ela se mate. Essas coisas ninguém diz na televisão, né? É um assunto complicado demais pra se lidar. É uma rotina tão grande que pensar ficou em segundo plano, é preciso se esquivar de toda a rotina ocasional e convencional, é preciso se marginalizar para ter discernimento das coisas e as coisas são tão simples e cada vez mais cansativas... É tudo tão insignificante que se torna cansativo repetir tais atividades, como por exemplo, pegar ônibus pra ir trabalhar, trabalhar pra ter dinheiro pra pagar as contas, se matar estudando pra não ter que se matar trabalhando pra pagar as contas, etc. E aí chega um ponto em que você percebe que essas pequenas atitudes é que são as grandes coisas das vidas de muita gente... Seria idiotice da minha parte dizer que tudo que fazemos é insignificante(?) As vezes penso que sim, penso que estudar é importante, não pra ter dinheiro, mas para adquirir conhecimento, mesmo, sabe? Mas existem tantos tipos de conhecimento... Quase todo mundo pode ler um livro, hoje em dia, tomar um curso ou sei lá o quê... A vida é cheia de coisas superficiais as quais nós acrescentamos valor imensurável.

Terminamos de fumar e voltamos pra dentro da casa do Fabrício, fomos até o computador e ele ficou conversando pelo Facebook enquanto falava comigo.

─ O cara que age assim, sem pensar em como vai atingir as outras pessoas é um bom filho da puta. Eu quando preciso tomar atitudes que atingem outras pessoas, eu peço opinião dos meus amigos e mediante a isso, procuro tomar a atitude mais sensata e que seja a mais correta, os caras não, tá ligado? Eles simplesmente vão fazendo as paradas e foda-se o mundo. ─ Disse Fabrício desabafando.
Eu fiquei calado olhando pra ele e pensando ainda sobre o estado físico inexistente do fogo, algo formado apenas de energia.
─ Eu acho que, assim, se a pessoa não tá interessada nas outras pessoas ─ continuou Fabrício ─ não vejo motivo pra começar algo, até mesmo uma amizade. Se você não se importa, não finja que se importa, sacou?
  Esse último pensamento do Fabrício refletiu bastante em como eu tenho me virado nos últimos tempos. Sem me importar com ninguém, sem procurar realmente laços de amizade ou relacionamentos, percebi que venho agindo "certo" de acordo com o que ele falava e que talvez seja esse tipo de comportamento que ele admirasse nas pessoas.
─ Você não pode esperar que todo mundo pense igual você ou a mim. ─ Quando eu disse isso ele fez uma cara de desapontado, não comigo, não com ele, mas com a vida num todo, então continuei ─  Se a vida fosse fácil cê acha que as pessoas simplesmente nasceriam, assim, todo dia?

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Por motivos tão casuais quanto o que
me faz, agora, escrever;
Estávamos nós e mais alguém,
sentados a beber.

Com versos, risos e prosa boa
próximos a uma negra lagoa,
Em um momento que julguei oportuno
Naquele fim de tempo diurno
Roubei-te um beijo, e, ardido o meu rosto,
Vi com apenas um olho
o chão, e o outro, todo negro.

Não soube dizer no momento,
Pois ânsia de raiva e sofrimento
me tomou conta, como se um demônio ou raça
de ser enfadonho, desses que pesam toneladas
estivessem dentro de minha alma
e falassem a mim para extinguir
toda a minha calma.

Como se fosse piada, o alguém, agora,
não importante, achou oportuno, também,
dar risada.
Como se fosse, de fato, uma desgraça
engraçada.

Apontava descontroladamente para a minha cara
marcada em tom vermelho, com marcas de dedos
que outrora eu desejava.

Tendo eu, já, me recomposto, coloquei a mão em
seu fino pescoço e comecei a dar-lhe de pancadas.

Não sei a que ponto terminamos a noite, sendo o tempo
tão desinteressante para mim nesse momento em que vivo,
Mas já que nesse tal abrigo que me deram não há muito
o que se fazer, devo dizer que fiquei um tanto sujo,
principalmente nas mãos.

Em ataques de raiva é engraçado o modo como nós
ficamos completamente surdos,
Embora até o surdos ouviram os gritos de horror
daquela estúpida mulher a gritar em praça pública
de modo que nas outras pessoas suscita
esse mesmo medo, o qual, sem nenhum segredo
se espalha tão rápido quanto queima o fogo
em palha seca.

Motivo o qual agora me encontro nesse tal cômodo trancado
Em que, as vezes penso que a chave foi jogada fora
e que nunca mais se abrirá aquele maldito cadeado.

O enterro do coitado risonho, (de caixão fechado),
deve ter sido encerrado, de fato, muito cedo, visto
que tal sujeito mal educado, não deve ter lá muitos amigos.
Que é o que me consola, uma vez que preso nessa fedida gaiola,
pensar no tempo de vida dos outros é o que me resta
e me dá certa sensação de abrigo.

quarta-feira, 25 de março de 2015

o preto que vira azul

Eu continuo fumando.
fumando todos os cigarros
que nunca fumei
por não saber tragar.
Eu continuo remando
por entre os carros
que nunca guiei
por medo de atropelar
sonhos, precedências.
no fim da rua, teu olhar
rimando com o fim
do meu olhar
também.

feche os olhos e respire devagar.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

winner winner chicken dinner

Eu parei de fumar, eu escolhi o pior dia
depois de uma grande quantidade
de dias em que não acontecia nada
na minha vida e parei de fumar.

Tudo vem acontecendo agora
como num jogo de poker;
J & Q suited na minha mão,
flop de 2,7, K, todos deram check.

Não tem nada de muito feliz nesse jogo,
qualquer um que saiba as regras básicas do jogo deve saber disso

... Mas eu continuo tendo esperança, milhares de vezes joguei ótimas cartas fora.
Milhares de vezes.

           

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Me repito dos mesmos erros, dos mesmos fardos
dos mesmos gostos e arremedos de partos;
As dores, tão grandes dores são nada
em tal plano físico onde desinventaram a escada

Não subo, não desço, sou parte da madeira;
da cidade, da cama, da cadeira.
Sou parte de tudo que é parte de algo
mas nada é parte de mim, sou a curva das grandes retas,

Incabível, inservível, desajustado.

                 Sem planos, sem metas
numa busca diária pela música que se quer
e não se sabe qual se quer,
                               [e se quer ainda, não tem mesmo coragem de buscar.

Não tem nada para apostar, não tem o que vencer nem então o que perder
        mas não sabe abandonar.

Me repito das mesmas rimas, dos mesmos versos,
da mesma métrica, da mesma falha na métrica.
            Da mesma dor.

 E então se eu parasse de analisar, de escrever e até mesmo de pensar antes de fazer o que eu quero pensar em fazer, talvez eu sorrisse mais, mas não seria eu.

sábado, 10 de janeiro de 2015

sonho

destituído das vitórias comuns
o homem se levanta pela manhã
como se tudo fizesse algum
sentido numa realidade sã

tudo é maior, menor. irreal
temo já não caber em mim.
monstro ilusório, imaterial.
quimera sem rimas.

e o tempo se esvai
feito água em veraneio.
desilusões, óxidos e paz.
só ouço anseios
desculpe-me.

o leite parece que acabou.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O monstro

Um monstro o qual todos conheciam,
Esse que tinha algumas mulheres, ainda.
Mas certos dias não podia ver ninguém,
                               [apenas por vergonha
de sua aparência, dos seus atos, da sua vida.

Um olho roxo aparece de manhã.
Ninguém o bateu
Mas ele conseguiu um olho roxo
Numa loteria de desastres corporais.
O monstro é campeão
Em ganhar desastres.

E em guardar lembranças.
Tivesse visto o mundo, hoje, perderia a memória.
Tivesse sido um grande esgrimista, hoje, não teria a mão.

Tivesse amado uma bela mulher,

hoje.

não tem coração.